Notícias da Reunião Sobre o Fígado 2015, São Francisco O
boletim mensal de notícias sobre hepatite do infohep.org geralmente só está
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Esta
edição do boletim do infohep.org é dedicada às notícias da Reunião Sobre o Fígado, organizada pela American
Association for the Study of Liver Diseases (AASLD), que teve lugar de 13 a 17
de novembro, em São Francisco, E.U.A.
Resultados a longo prazo após tratamento da hepatite C: cancro hepático Estudos apresentados na Reunião
Sobre o Fígado demonstraram que é provável que a incidência de cancro do fígado e
de cirrose causada pela infeção pela hepatite C continue a aumentar nos Estados
Unidos, apesar do tratamento com maiores taxas de cura, e que as pessoas com
cirrose no momento da cura da infeção irão necessitar de acompanhamento a longo
prazo para vigiar o possível desenvolvimento de cancro do fígado.
Um
estudo da base de dados do Veterans Affairs Hospitals analisou a forma como a
cura da infeção pela hepatite C afetou o risco de se desenvolver cancro
hepático. A conclusão foi que a cura reduz o risco de se desenvolver esse tipo
de cancro em 64%, mas que não o eliminava. As pessoas com cirrose na altura da
cura tinham uma probabilidade quatro vezes e meia maior de desenvolver cancro
hepático que as pessoas sem cirrose, tal como as pessoas com mais de 65 anos se
comparadas com aquelas com menos de 55 anos.
Um
segundo estudo usou as tendências da população do Veterans Hospital para
projetar o que aconteceria nos Estados Unidos. Os investigadores concluíram que
a incidência da cirrose e do carcinoma hepatocelular irão provavelmente
continuar a aumentar nos Estados Unidos até 2021, mesmo tendo em conta o
impacto do tratamento.
Os
investigadores de um terceiro estudo concluíram que a população de pessoas nos
E.U.A. que vive com a infeção pela hepatite C e que tem cirrose aumentou de
aproximadamente 170 000 no período entre 1988 e 1994 para 370 000 no período
entre 2007 e 2012.
Os
investigadores alertaram para o facto de que, devido à ausência de sintomas nas
primeiras fases de cirrose, muitas pessoas podem desconhecer que vivem com
hepatite e doença hepática avançada, e que os médicos devem estar
particularmente atentos para o risco de cirrose em pessoas que vivem com
hepatite C que são mais velhas, que têm diabetes e que têm um elevado índice de
massa corporal.
Estas
conclusões enfatizam a importância do diagnóstico e tratamento precoces na
redução do risco de desenvolvimento de cancro hepático e na redução da
incidência de problemas de saúde associados à hepatite C.
Resultados a longo prazo após tratamento da hepatite C: reversão de danos no fígado As
pessoas que não recebem o tratamento para a infeção pela hepatite C até terem
desenvolvido fibrose avançada ou cirrose querem saber se existe um tratamento
que possa reverter os danos hepáticos. É necessário acompanhamento a longo
prazo de pessoas que curaram a infeção pela hepatite C de forma a responder a essa
questão e prever quem terá maior probabilidade de beneficiar da mesma.
Um estudo com cem pessoas com
cirrose que curaram a infeção pela hepatite C com tratamento antirretroviral de
ação direta em hospitais dos Estados Unidos concluiu que 69% das pessoas com
fibrose avançada e 55% das pessoas com cirrose tiveram uma melhoria na saúde do
seu fígado através de uma análise com o Fibroscan
(usando elastografia transitória, semelhante a um ultrassom). No geral, apenas
6% das pessoas sentiram um aumento dos danos hepáticos após a cura da infeção
pela hepatite C. O tempo médio para melhoria foi de 2,5 anos em pessoas com
fibrose avançada e 3 anos para pessoas com cirrose, o que indica que aqueles
com danos hepáticos menos severos poderão melhorar mais rapidamente. No estudo,
os investigadores identificaram poucos factores que podem prever a melhoria ou
agravar da fibrose. Diabetes e varizes foram associadas a uma menor
probabilidade de melhoria da fibrose.
Tratamento da infeção pela hepatite C em pessoas que usam drogas por via injetada O
vírus da hepatite C (VHC) é facilmente transmitido através da partilha de
material de injeção e as pessoas que usam ou já usaram drogas por via injetada
têm elevadas taxas de infeção (50 a 80% em alguns estudos). Muitos médicos e
seguradoras ainda consideram as pessoas que usam drogas por via injetada más
candidatas a tratamento e as pessoas com consumos ativos têm sido excluídas da
maioria dos ensaios com os novos agentes antivirais de ação direta.
No estudo C-EDGE CO-STAR, a coformulação de
grazoprevir/elbasvir da Merck curou a infeção pela hepatite C em 92% das
pessoas que usam drogas por via injetada e que estavam sob terapêutica de substituição
opiácea. Os participantes mantiveram uma boa adesão e tiveram elevadas taxas de
cura, apesar de muitos continuarem a usar drogas ilícitas.
“A
segurança e elevada eficácia demonstraram de forma convincente os benefícios do
tratamento da infeção pelo VHC nesta população”, afirmou Dr. Greg Dore do Kirby
Institute da da Universidade de New South Wales, na Austrália. “Esta evidência
deveria melhorar o acesso às novas terapêuticas para a infeção pelo VHC,
incluindo a eliminação das restrições ao acesso baseadas no uso de drogas
ilícitas. Este estudo fornece garantias aos profissionais de saúde preocupados
com a possibilidade de os seus doentes que usam drogas ilícitas não aderirem ao
tratamento crónico para o VHC”.
Tratamento para o genótipo 3 Se
comparada com outros genótipos, a infeção com o genótipo 3 está associada a um
risco aumentado de progressão de fibrose e cancro hepático (carcinoma
hepatocelular), tornando a disponibilização de opções de tratamento
comportáveis e eficazes para as pessoas com a infeção pela hepatite C com
genótipo 3 uma necessidade importante.
A
infeção pela hepatite C com genótipo 3 é mais difícil de curar que as infeções
com outros genótipos, necessitando de um tratamento mais longo com a maioria
dos regimes terapêuticos. O único regime de 12 semanas livre de interferão para
o tratamento das infeções com genótipo 3 aprovado atualmente consiste em
daclatasvir (Daklinza®) e sofosbuvir
(Sovaldi®). Estima-se que quase 30%
das infeções pela hepatite C em todo o mundo sejam pelo genótipo 3, existindo
uma particular concentração no subcontinente indiano e entre as populações de
origem sul asiática. O genótipo 3 também se encontra presente na Federação
Russa, Escandinávia, Tailândia, Brasil e Austrália.
As
conclusões apresentadas na Reunião Sobre o Fígado demonstraram que a combinação
de daclatasvir (Daklinza®) e
sofosbuvir é altamente eficaz no tratamento da infeção pelo genótipo 3.
O ensaio ALLY-3+, um estudo pós
marketing conduzido com pessoas com fibrose avançada (estadio F3) ou cirrose
compensada,
demonstrou que a combinação de daclatasvir, sofosbuvir e ribavirina curou 88%
das pessoas tratadas em 12 semanas e 92% das pessoas tratadas em 16 semanas. Os relatórios de dois programas de
acesso compassivo
na Alemanha e França, demonstraram boas taxas de cura em pessoas com cirrose
compensada e nos pequenos grupos de pessoas com cirrose descompensada tratadas
através destes programas. O estudo de coorte alemão não encontrou diferenças
nas respostas daqueles que receberam ribavirina e aqueles que não a receberam.
Vários
estudos apresentados na Reunião Sobre o Fígado demonstraram que os novos
regimes experimentais também conseguiram elevadas taxas de cura em pessoas com
a infeção pelo genótipo 3, sem ribavirina.
A AbbVie apresentou resultados de um
estudo de fase 2 com um novo regime de dois medicamentos livre de interferão. O ABT-493 é um inibidor
da protease VHC NS3/4A ativo contra todos os genótipos da hepatite C. O ABT-530
é um inibidor NS5A também ativo contra todos os genótipos do VHC. Ambos os
agentes são ativos contra as variantes comuns que conferem resistência aos agentes
de primeira geração das suas classes. O estudo recrutou pessoas que não tinham
feito o tratamento anteriormente ou pessoas que tiveram respostas nulas ao
interferão peguilado e ribavirina, sem evidências de cirrose. A combinação
curou 93 a 97% das pessoas com a infeção pela hepatite C de genótipo 3 depois
de um tratamento de 12 semanas.
A
Gilead apresentou resultados do estudo de
12 semanas ASTRAL-3.
A coformulação do sofosbuvir (Solvaldi®)
e do inibidor pangenotípico VHC NS5A velpatasvir produziu uma resposta
sustentada em 95% daqueles com genótipo 3 neste estudo. Cerca de um quarto dos
participantes tinham feito o tratamento anteriormente e 30% tinham cirrose.
A
Gilead apresentou também os resultados de
um estudo no qual um terceiro agente, o inibidor da protease vedroprevir, foi
adicionado ao sofosbuvir e ao velpatasvir. O tratamento com este regime
durou entre 6 a 8 semanas. No grupo com genótipo 3 deste estudo de fase 2, a
taxa de SVR12 era de 83% na coorte de pessoas naïve para o tratamento com cirrose que foram tratadas ao longo de
6 semanas. Na coorte de pessoas com cirrose, que tinham feito o tratamento
anteriormente e tratadas ao longo de 8 semanas, 100% atingiram SVR12.
Novos medicamentos: combinações de tratamento pangenotipicas Um
tratamento pangenotipico para a infeção para a hepatite C é uma combinação de
medicamentos eficazes contra todos os genótipos da hepatite C. As combinações
de tratamento pangenotipicas podem melhorar de várias formas o acesso ao
tratamento. A disponibilização do mesmo iria eliminar a necessidade de se
realizar rastreios dispendiosos para concluir qual o genótipo de cada pessoa
infetada antes de se iniciar o tratamento, reduzindo o custo total. Este tipo
de tratamento também iria simplificar a disponibilização de tratamento em
países com diversos genótipos entre a população de pessoas com a infeção pela
hepatite C. Poderia ser prescrita uma única combinação para a maioria das
pessoas que vivem com hepatite C, simplificando a oferta e procura dos medicamentos.
Tratar um elevado número de pessoas com a mesma combinação iria também
facilitar a negociação de preços mais baixos.
Várias
companhias farmacêuticas estão a desenvolver novas combinações de tratamento
pangenotipicas. Na Reunião Sobre o Fígado ouviram-se as conclusões de várias
destas combinações, a primeira das quais poderá receber a aprovação para marketing na primeira metade de 2016.
A
Gilead apresentou os resultados de quatro
estudos ASTRAL
que demonstram que a combinação de sofosbuvir e do inibidor pangenotipico VHC
NS5A velpatasvir produziu uma resposta sustentada em 99% das pessoas com os
genótipos 1, 2, 4, 5 e 6 da hepatite C e em 95% daqueles com genótipo 3, mais
difícil de tratar.
Os
quatro estudos de grandes dimensões trataram 1797 pessoas, incluindo 267
pessoas do estudo ASTRAL-4 sobre tratamento em pessoas com cirrose descompensada.
O estudo ASTRAL-04 obteve taxas SVR12 de 83 e 86% entre as pessoas tratadas com
sofosbuvir/velpatasvir ao longo de respetivamente 12 e 24 semanas, subindo para
94% para aqueles a quem também foi dada ribavirina. O efeito da inclusão da
ribavirina foi mais pronunciado em pessoas com genótipo 3 e com cirrose
descompensada: apenas 50% das pessoas que receberam sofosbuvir/velpatasvir
atingiram SVR12, enquanto 85% eliminaram o vírus quando foi adicionada
ribavirina ao seu tratamento.
Esta
combinação coformulada foi submetida para aprovação de marketing nos Estados
Unidos e União Europeia e será provavelmente aprovada na primeira metade de
2016.
A
AbbVie apresentou resultados de estudos
fase 2 sobre a sua combinação pangenotipica do ABT-493, um inibidor da
protease VHC NS3/4A ativo contra todos os genótipos da hepatite C e ABT-530, um
inibidor NS5A também ativo contra todos os genótipos do VHC. O estudo
SURVEYOR-1 testou a combinação em pessoas com genótipo 1 e o estudo SURVEYOR -2
testou-a em pessoas com genótipos 2 e 3. Os estudos compararam várias doses,
com e sem ribavirina. No SURVEYOR-1 a combinação curou entre 97 a 100% das
pessoas sem cirrose. No SURVEYOR-2, a combinação curou entre
96 a 100% das pessoas com genótipo 2 e 93 a 97% das pessoas com genótipo 3. Em
todos os casos, os participantes estiveram 12 semanas em tratamento. Os estudos
de fase III terão início em breve e irão também testar a eficácia de um tratamento
de 8 semanas.
Daclatasvir aprovado para Medicines Patent Pool A Medicines Patent Pool (MPP)
anunciou esta semana a sua primeira licença para um medicamento para a infeção
pela hepatite C, assinando um acordo com a Bristol-Myers Squibb para o
daclatasvir,
um antiviral de ação direta que ajuda a tratar vários genótipos do vírus da
hepatite C. A licença sem royalties irá permitir a produção de genéricos do
daclatasvir para venda em 112 países de baixos e médios rendimentos, 76 dos
quais são países classificados pelo Banco Mundial como tendo médios
rendimentos. Quase dois terços de todas as pessoas que vivem com hepatite C em
países de baixos e médios rendimentos residem em territórios cobertos por este
acordo.
A
licença permite que os produtores de genéricos desenvolvam combinações de dose
fixa com outros antivirais de ação direta para criar potentes regimes
pangenotipicos que tenham potencial para tratar todos os principais genótipos
do VHC.
“A
licença surge pouco depois da MPP ter anunciado a sua expansão para a área da
hepatite C e estar a começar um diálogo de seis meses com grupos de doentes,
sociedade civil e outros stakeholders
sobre as melhores abordagens para melhorar o acesso a novas soluções que curem
o VHC”, afirmou Greg Perry, Diretor Executivo da MPP. “Além disso, acreditamos
que a licença tem em consideração as preocupações dos ativistas que têm feito
campanha para que as inovações que podem salvar vidas, como o daclatasvir,
cheguem a mais pessoas mais rapidamente”.
Relatório e recurso da Cimeira Mundial das Hepatites
Novo folheto informativo sobre tratamento para a hepatite C
Publicámos
recentemente um folheto informativo sobre dois novos medicamentos usados no
tratamento da infeção pela hepatite C: Viekirax
(paritaprevir/ombitasvir/ritonavir) e Exviera (dasabuvir).
Este
folheto vem juntar-se aos nossos outros seis folhetos sobre o tratamento da
infeção pela hepatite C.
Os
folhetos focam-se em medicamentos antivirais de ação direta e fornecem uma
visão geral sobre o modo como funcionam, quem os pode tomar, como são tomados,
que ensaios clínicos nos dão informações sobre a sua eficácia, efeitos
secundários conhecidos e interações medicamentosas.
Os
folhetos informativos estão disponíveis para consulta online e foram desenhados
para serem impressos e partilhados.
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