Dr.
James Freeman numa apresentação na ILC 2016. Fotografia de Liz Highleyman,
hivandhepatitis.com
Um estudo com 139 doentes, monitorizado pelo
médico australiano James Freeman, demonstrou que as versões genéricas dos
antivirais de ação direta (AAD), adquiridas na China e na Índia por pessoas com
recursos limitados para obter os tratamentos nos seus países, foram tão
eficazes e seguras como os produtos de marca registada. As
conclusões foram apresentadas numa sessão sobre investigação no Congresso Internacional
sobre o Fígado, que teve lugar no início de abril, em Barcelona.
O elevado custo dos AAD de marca registada
conduziu ao racionamento de tratamentos, a uma lenta aprovação de medicamentos
e à recusa de cobertura por seguros de saúde em vários países. As pessoas que
não conseguiam obter o tratamento para a hepatite C através dos serviços de
saúde procuraram, em desespero, o
clube
de compradores FixHepC, para obterem as versões genéricas do sofosbuvir,
sofosbuvir/ledipasvir e daclatasvir.
A importação de medicamentos para uso pessoal
é permitida de acordo com os regulamentos alfandegários da Austrália e Reino
Unido, e muitos outros países têm regulamentos que permitem a importação de
pequenas quantidades de medicamentos para uso pessoal ou o seu transporte na
alfândega na bagagem pessoal. O clube de compradores FixHepC disponibiliza
aconselhamento e informação sobre como fazê-lo de modo seguro e legal, tendo este
processo sido iniciado no contexto australiano, mas passando rapidamente a
responder a pedidos na Europa, América do Norte, Nova Zelândia e Sudeste
Asiático.
A FixHepC recomenda que se compre versões
genéricas de medicamentos para o tratamento da hepatite C a empresas da Índia,
visto que estas foram submetidas a inspeções de fabricação pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e que têm um histórico de produção em largos volumes de
medicamentos antirretrovirais de elevada qualidade para o tratamento da infeção
pelo VIH. A FixHepC disponibiliza informação sobre quais as empresas com esta
experiência. No entanto, é importante notar que, até à data, nenhuma das
empresas que produzem AAD se candidataram ou receberam a pré-qualificação da
OMS para produtos para a infeção pela hepatite C. A pré-qualificação da OMS corresponde
a um padrão de qualidade para os produtos genéricos, tendo esta pedido aos
produtores para candidatarem os seus produtos para o tratamento da pela
hepatite C à pré-qualificação, de forma a criar confiança na qualidade dos AAD genéricos.
O projeto FixHepC usa um teste manufaturado pelos
fabricantes farmacêuticos para testar a medicação encomendada pelas pessoas que
usam os seus serviços, de modo a verificar se os produtos contêm a quantidade
indicada do componente ativo.
Os resultados interinos do estudo (quatro
semanas após o fim do tratamento) demonstram que, no geral, 94,4% das pessoas
que receberam as versões genéricas de AAD tinham à data uma resposta virológica
sustentada, algo semelhante à performance das versões de marca nas coortes de
grandes dimensões e em contexto real (ver abaixo para mais detalhes).
As conclusões receberam um longo aplauso do
público, onde estavam presentes especialistas da área. Durante a conferência,
muitos dos principais especialistas expressaram a sua frustração com os
elevados preços dos AAD e com o racionamento destes medicamentos devido ao
custo que estes têm para os governos e para as seguradoras.
Mas o estudo apresentado pelo Dr. Freeman
representa a ponta do icebergue em termos de impacto dos medicamentos genéricos
no tratamento para a hepatite C. Embora a compra de medicamentos genéricos
possa ajudar muitas pessoas a quem é atualmente negado o tratamento devido ao
seu custo, o tratamento encomendado pelo correio não é uma solução sustentável
para um grande problema de saúde pública. Somente uma combinação de preços
comportáveis praticados pelas empresas e um compromisso com o tratamento para a
hepatite C por parte dos governos irá tornar a cura acessível em grande escala.
Ativistas
exigem acesso ao tratamento para a hepatite C na ILC 2016. Fotografia de Liz
Highleyman, hivandhepatitis.com
Para os países de baixo e médio rendimento, as
versões genéricas dos AAD oferecem a possibilidade de um tratamento comportável
– se os governos e os produtores conseguirem percorrer um labirinto de
restrições de licenciamento voluntário e explorar as flexibilidades do acordo
de comércio TRIPS, que permite a utilização de genéricos em algumas
circunstâncias, mesmo quando os medicamentos são patenteados.
Várias
sessões da conferência salientaram o progresso já feito em alguns países como
resultado da disponibilização de AAD genéricos. Os produtores na Índia
conseguem fabricar um tratamento com AAD por menos de 300 dólares. À medida que
o volume de encomendas e o número de propostas aumenta, é provável que os
preços decresçam ainda devido à concorrência. A captação da hepatite C está a aumentar
na Índia e no Paquistão. No Egito, o governo tem como objetivo tratar
400 000 pessoas até 2017, maioritariamente através do uso de medicamentos genéricos.
Contudo, para que o Egito atinja a meta de eliminar a hepatite C – uma redução
de 95% nas novas infeções -, será necessário um grande investimento no aumento
do rastreio, diagnóstico e encaminhamento para tratamento.
Os
ativistas presentes na reunião de Barcelona pediram acesso a AAD genéricos,
não apenas nos países de baixo e médio rendimento, mas também nos países com elevado
rendimento. Apelaram ao fim do racionamento do tratamento por motivos económicos,
apontando o facto de a Gilead já ter ganho mais de 32 mil milhões de dólares
com os medicamentos para a infeção pela hepatite C. Enquanto a Gilead cobra até
84 000 dólares por um tratamento com Solvaldi®
(sofosbuvir) nos Estados Unidos da América, as versões genéricas podem ser
produzidas na Índia por menos de 300 dólares por tratamento.
Connect with infohep on Facebook: Keep up to date with all the latest news and developments.
Follow infohep on Twitter for links to news stories and updates from infohep.org. Follow us at www.twitter.com/infohep.
Follow all the infohep news by subscribing to our RSS feeds.